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Nas reflexões sobre percepção, voltando-se às coisas mesmas, a filosofia de Merleau-Ponty busca compreender o percebido em seu ser desde o instante primeiro, isento de qualquer cognição possível. Esse movimento metodológico é marcadamente inspirado na Fenomenologia, tal como preconizada por Edmund Husserl, ao anunciar a consciência intencional. Esta não é mais um predicamento egocêntrico, como concebido pela tradição filosófica, mas sim a consciência da percepção enquanto intencionalidade, movimento, verbo, que se constitui no instante do voltar-se noético para o objeto intuído. Isso nos proporciona uma ampla compreensão dos diversos modos de ser do ente que somos nós, em nossa cotidianidade mediana e contemporânea. Além disso, compreendem-se os modos como percebemos os outros, humanos como nós, em sua alteridade e corporeidade. Os corpos se movimentam em estéticas, impressões e expressões, ritmos, danças, poesia, sendo percebidos de diferentes maneiras, ganhando diversas conotações significativas, marcadas pela historicidade e linguisticidade vividas. Considerando a filosofia merleau-pontyana à luz de um viés estético, como poderiam ser compreendidos os corpos dromomaníacos, aqueles que se deslocam incessantemente, sempre impulsionados a estarem onde não estão? Este estudo tem como objetivo instigar a reflexão filosófica sobre o que poderia estruturar esses afetos, buscando vislumbrar outros sentidos além da descrição de existências malogradas, reduzidas a meros objetos de pesquisa psicopatológica. O que poderiam dizer esteticamente os corpos em seus movimentos e fixações, em suas impressões e expressões, em sua capacidade infinita de suscitar novos sentidos e significados? |